Mais radicais do que vegetarianos, eles proliferam no Rio 
e em São Paulo defendendo filosofia inglesa do século 19 

ARLETE MENDES 

 SÃO PAULO – Somos todos canibais. Pelo menos segundo os seguidores do vegan, termo criado no fim do século 19, na Grã-Bretanha, que define pessoas que lutam por direitos iguais para homens e animais. Eles pregam uma filosofia de vida que abomina o consumo de todo e qualquer alimento ou vestimenta de origem animal, ou que tenha sido testado com o auxílio deles, e também de diversões que os utilizem.  

Esta é a principal diferença entre vegans e vegetarianos, que se alimentam basicamente de produtos vegetais e adicionam ou não à sua dieta produtos derivados, o que não é aceito em hipótese alguma por estes radicais. 

 Para os discípulos do vegan, é possível substituir todos os elementos do cardápio diário por substâncias vegetais. A dieta seria baseada em grãos, legumes, vegetais, frutas, nozes e sementes, sem prejuízo para a saúde de adultos ou crianças. 

 Ética – Mas os adeptos da teoria vegan dizem que o princípio motivador da filosofia é, acima de tudo, uma questão ética. Eles defendem que o vegan exclui todo tipo de exploração e de crueldade contra o reino animal. Para eles, é fundamental seguir o preceito de respeito a todas as formas de vida. E entendem também que é impossível pensar a ecologia sem incluir o vegan e sua noção de responsabilidade em relação aos recursos naturais da Terra. 

 Para o nutricionista George Guimarães, de 25 anos de idade, vegan praticante há cinco e dono da loja paulistana VivaVegan, os vegans pioneiros são os povos pré-históricos, que não tinham o conceito mas já se alimentavam do modo conhecido atualmente.  

O nutricionista afirma que os povos primitivos mantiveram os princípios vegan até desenvolverem habilidade para elaborar armas. Até então, eles eram coletores de raízes, frutos e verduras. 

 O médico norte-americano Michael Kapler desenvolveu um estudo, no fim da década de 50, com os seis grupos de alimentos vegan – um plano que leva seu nome e ensina o que comer dentro da teoria, sem deixar de obter os nutrientes necessários à saúde. 

 Para o estudioso, é só consumir porções diárias de alimentos pertencentes aos grupos de grãos integrais e batatas; leguminosas; vegetais verdes e amarelos; nozes e sementes; frutas e alimentos ricos em vitamina B-12 e minerais. 

 Esses princípios, aliás, são adotados por muitas pessoas há pelo menos meio século, dizem os vegans, que contabilizam atualmente 50 movimentos mundiais. A primeira sociedade desse tipo teria surgido em 1944, na Inglaterra, e chegado à América em 1960. 

 O nutricionista George Guimarães refuta a idéia de que a carne é essencial à saúde do homem. "Não se trata de uma necessidade fisiológica ou química, e sim comportamental." Para ele, a rotina é derivada do gostar de comer carne ou ter sido educado assim. 

 Ele diz que as proteínas e o ferro fornecidos por esse alimento podem ser obtidos em leguminosas (soja e seus derivados, lentilha, feijão e grão de bico) e cereais integrais (arroz, trigo, cevadinha e centeio). O cálcio do leite, por exemplo, pode ser encontrado em vegetais de folhas verdes e leguminosas escuras, ensina. 

 Mito – George Guimarães acredita que o teoria vegan só não é mais conhecida por falta de informação. O primeiro mito é de que a ausência de carne causa fraqueza. "As doenças que mais matam são as de excesso alimentar e não de deficiência", reage. E acrescenta que as estatísticas americanas mostram que 50% da população morre de doenças circulatórias ligadas ao consumo de carne.  

Nem sobre o leite existe uma base científica que comprove sua eficácia contra a osteoporose, lembra ele. E revela que um estudo realizado em 1992, pela indústria do leite da Califórnia, com dois grupos – um submetido ao consumo de leite e outro não -, demonstrou que o segundo apresentou menor perda de cálcio. 

 O especialista indica inúmeras vantagens na alimentação vegan, que seria capaz de retirar gorduras e contaminantes (agrotóxicos, antibióticos e hormônios) do corpo, além de diminuir a predisposição às doenças. Entre elas, a diabete, a arteriosclerose, a osteoporose e o câncer. O paulistano Georde Guimarães é vegetariano desde os quatro anos de idade e se considera um vegan há cinco. "Passei dois anos me informando sobre o assunto e descobri que era vegan e não sabia." 

 Ele diz que, no seu caso pessoal, as melhoras se fizeram notar na boa disposição diária, na pele e no fim das alergias respiratórias, que eram freqüentes. Além disso, a dieta normalizou seu peso. 

 Dieta – Para ilustrar: no almoço, ele consome broto de alfafa, cenoura, alface, trigo integral em grão, arroz integral, feijão e proteína de soja. De sobremesa, creme de abacate. 

 Já o carioca Cézar Faria e Silva, que tem 30 anos na estrada vegetariana e dois no vegan, é responsável pela página Vegan Rio de Janeiro na Internet e diz que a filosofia promoveu uma mudança na sua relação com o ecossistema. 

 No tocante à alimentação, ele revela que faz refeições balanceadas, com base nos seis grupos básicos de alimentos de Kapler. "O segredo é o tempero", diz. E acrescenta que seu paladar, hoje, é mais apurado. 

 César está na fase de acabamento do livro Alimentação vegan – Dieta do Terceiro Milênio e critica a forma de cultivo dos alimentos naturais. "Eles não são confiáveis, porque têm agrotóxicos, o que reflete como se leva pouco a sério a cultura naturalista neste país." 

 No Brasil, de acordo com os dois vegans, não há estatísticas sobre o grupo. Em São Paulo, George calcula 700 adeptos, pelos contatos que estabeleceu em 1998 para abrir uma associa&c
cedil;ão (ainda não concretizada), e reclama da inexistência de um restaurante para esse público.
 

 Essa deficiência não existe no Rio, onde o Reino Vegetal funciona há dois anos e meio, perto da Praça Tiradentes. O estabelecimento serve 18 pratos, entre quentes e frios, além de sopa, salgadinhos, molho e sobremesas, segundo Antônio Carlos da Silva Costa, auxiliar da gerência.  

Serviço: 

 A loja do nutricionista George Guimarães funciona na Rua João Cachoeira, 213, tel. (011) 883-2198. Aberta de segunda a sábado, das 8h30 às 19h30, e aos domingos, das 10h às 19h30. Para consultas, o fone é (011) 533-3861. Já César Faria e Silva recebe recados pelo bip: ligue (021) 460-1010, código 278-9363. 

 O restaurante Reino Vegetal fica na rua Luiz de Camões 98 (RJ), tel. (021) 221-7416. Abre de segunda a sexta, das 11h às 15h. 

 Internet: página da loja VivaVegan – http://www.members.tripod.com/vivavegan. Vegan Rio de Janeiro – http://www.brasil.terravista.pt/ipanema/2954. 

  

Receita

Bolinhos de maçã e passas 
(para 18 pessoas) 

 1 xícara de farinha de trigo branca 

 1 xícara de farinha de trigo integral 

 1 colher de chá de fermento em pó 

 1 colher de bicarbonato de sódio 

 1 colher de chá de canela 

 1/4 de colher de chá de erva-doce 

 1 xícara de água 

 1/3 xícara de melado de cana ou malte de cevada 

 2 maçãs sem caroços, cortadas bem finas 

 1/2 xícara de passas 

 Pré-aqueça o forno a 200 graus centígrados. Misture os ingredientes em uma bacia larga e forme 18 bolinhos. Unte a forma com óleo de canela (forma de empadas) e coloque tudo para assar por 20 minutos. Deixe esfriar antes de servir. 

 Fonte: Vegan Rio de Janeiro. 

  
[27 de junho][Retorna]  

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