Por quase 2500 anos, europeus e americanos chamavam aqueles que seguiam o vegetarianismo de Pitagóricos (ou Pitagóricos). O termo vegetariano não era usado generalizadamente ate' a fundação da Sociedade Vegetariana Britânica em 1847.
O argumento de Pitágoras em favor da dieta sem carne tinha três "pontas" (como um triângulo): veneração religiosa, saúde física e responsabilidade ecológica. E essas razoes continuam a ser citadas hoje pelas pessoas que preferem levar a vida sem carne.
Enquanto sempre houveram vegetarianos na população mundial, vários escolheram esse caminho mais por necessidade do que por preferencia. O mundo medieval considerava vegetais e cereais como comida para animais. Somente a pobreza compelia as pessoas a substituírem a carne com vegetais.
A carne era um símbolo de status de classe alta. Quanto mais alguém comia carne, mais elevada era a sua posição na sociedade. No dicionário de Samuel Johnson publicado em 1775, esse preconceito cultural estava presente na sua definição de aveia: "Aveia: um grão que na Inglaterra e' dado aos cavalos, mas na Escócia alimenta as pessoas."
Vegetarianismo e religião. Vegetarianismo e' freqüentemente ligado a religião, e a forca dessa relação parece se vincular diretamente a idade da religião. Por exemplo, o Islamismo, uma religião relativamente jovem – 1300 anos, não tem cultura vegetariana forte. Maomé pregava a gentileza com os animais e uma vez salvou insetos do sofrimento fazendo seus homens apagar um fogo de cima de um formigueiro. Mas a maioria dos muçulmanos de hoje não consideram o vegetarianismo uma necessidade religiosa.
Os Budistas, por outro lado, seguindo o exemplo de não-violencia de Gautama e a pratica de não ferir outras criaturas viventes, tem praticado vegetarianismo por 2500 anos. Hinduísmo possui princípios vegetarianos que datam de 5000 anos nas escrituras Védicas que defendem a abstinência de carne pregada aos adeptos.
Judeus citam o primeiro capitulo do Gênesis como uma prescrição da dieta original: "E Deus disse, Eu vos dei cada semente de erva, que estão por toda a terra, cada arvore, nas quais estão os frutos de semente; para vocês elas servirão de comer" (Gênesis 1:29).
Apesar dessa cultura, os Judeus chegaram a considerar a abstinência de carne como uma depravação, freqüentemente associada como símbolo de pesar e tristeza. O filosofo judeu do século um Philo dizia que Deus havia proibido o uso da carne de porco e mariscos porque essas eram as carnes mais saborosas. Ele disse que esse era o meio pelo qual Deus restringia os desejos e prazeres do corpo.
O Cristianismo primitivo, com suas raízes na tradição judaica, viram o vegetarianismo de maneira similar – um jejum modificado para purificar o corpo. Tertuliano (155-255 DC), Clemente de Alexandria (150-215 DC) e João Crisóstomo (347-407 DC) ensinaram que evitar a carne era uma maneira de aumentar a disciplina e a forca de vontade necessária para resistir as tentações. Isso tornou as restrições dietéticas, como o vegetarianismo, muito comuns no comportamento cristão da época. E essa crença foi passada adiante ao longo dos anos de uma forma ou de outra – por exemplo, a proibição de carne (exceto peixe) da Igreja Católica Romana nas sextas durante a Quaresma.
As ligações de religiões com o vegetarianismo se tornaram popular na Inglaterra do século quinze, a qual e' provavelmente a época de nascimento do vegetarianismo moderno.
Thomas Tryon (1634-1703), um filosofo autodidata e aluno do místico protestante Jakob Boehmen, declarou em 1657, "A voz da sabedoria … me conclamou ao isolamento e auto-negacao … Eu me dispus a somente água para beber e abandonei todo o tipo de carne ou peixe, confinando- me a uma vida abstemia e de negação do ego." Seu livro, O Caminho da Saúde, publicado em 1691, advogava uma dieta vegetariana e era amplamente lido pelos pensadores da época. Ele ate' mesmo influenciou o jovem Benjamin Franklin (1706-1790) a se tornar um "Tryonista" por algum tempo.
A mensagem de Tryon também influenciou o Dr. George Cheyne (1671- 1743), um famoso medico de Londres. Anos de indulgencia o deixaram com aproximadamente 250 quilos; assim ele decidiu seguir a dieta vegetariana descrita por Tryon. O sucesso de Cheyne levou-o a publicar em 1724 o "Ensaio sobre Saúde e Vida Longeva" recomendando uma dieta sem carne.
O fundador da Igreja Metodista, John Wesley, foi paciente de Cheyne e convertido ao vegetarianismo. Cheyne contava com outros luminares como Pope, Swift e Hume como amigos e como resultado, vários pensadores e escritores da Inglaterra começaram a elogiar, quando não praticavam, a dieta vegetariana. O ensaio de Cheyne espalhou a controvérsia entre os afiliados da Sociedade Real de Londres, onde era debatido acaloradamente.
Aparentemente, a argumentação de Cheyne convenceu o Dr. Antonio Cocchi de Florença. Sua primeira visita 'a Sociedade, como convidado de seu presidente, Sir Isaac Newton, ocorreu durante uma dessas discussões. Alguns anos depois em Agosto de 1745, seguindo seu retorno a Florença, Cocchi deu uma palestra sobre as virtudes da dieta "Pitagórica", produzindo um reavivamento do vegetarianismo italiano. Sua palestra, sem duvida, ecoou os sentimentos de seu conterrâneo Leonardo da Vinci (1452-1519), quem por vários anos antes declarou que "Eu tenho desde criança abandonado o uso da carne e um dia os homens verão o assassinato dos animais da mesma forma como vem hoje o assassinato dos humanos."
O livro de Cheyne continuou popular e ainda estava sendo impresso 46 anos depois de sua publicação inaugural. Dentre aqueles influenciados pelas suas recomendações estava o Dr. William Lambe (1765-1847), que disse que "o uso da carne dos animais e' um desvio das leis de sua natureza, e e' uma causa universal de doenças e mortes prematuras".
Argumentos como esse capturaram a atenção de William Cowherd (1763- 1816), um clérigo dissidente da Igreja da Inglaterra. Em 1800, rompendo com a igreja, ele estabeleceu sua própria seita em Manchester. Cowherd ensinava que a dieta comandada no Gênesis 1:29 era uma responsabilidade religiosa. Ele tinha uma certeza tão grande disso que a única qualificação necessária para a filiação 'a sua Igreja Crista Bíblica era a adesão 'a uma dieta vegetariana por pelo menos seis meses.
William Medcalfe (1788-1862) se juntou ao grupo em 1809 e em 1817 liderou 40 outros membros da igreja em uma jornada de 11 semanas 'a América. A vida a bordo era imprópria para o vegetarianismo e somente 11 dos adultos e 7 das crianças chegaram a Filadélfia sem renegar o vegetarianismo.
Medcalfe era um evangelizador ativo pela dieta sem carne e 1823 seu livro Abstinência de Carne Animal se tornou o primeiro livro sobre vegetarianismo publicado nos EUA.
Um dos convertidos a esse plano alimentar, senão pelos princípios religiosos do grupo de Medcalfe era Sylvester Graham (1794-1851). Depois de visitar a igreja em 1829, ele começou a recomendar a dieta vegetariana aos milhares que compareciam 'as suas palestras sobre saúde.
Outros americanos notáveis como o medico de Boston William Alcott, seu primo, Bronson Alcott (1779-1888), Louisa May Alcott e seu pai, e o Dr. Russell Trall (1812-1877), entusiasta da "cura pela água", estavam entre os que apoiavam Graham. Em 1850, eles, com Medcalfe e outros, fundaram a Sociedade Vegetariana Americana, que teve vida curta.
Vegetarianismo na América do Norte. O vegetarianismo americano foi quase um acidente decorrido da preocupação com a Guerra Civil. Durante aquele tempo, a crescente Igreja Adventista do Sétimo Dia manteve as idéias vegetarianas. Ellen White (1827-1915), uma das fundadoras, começou a defender a dieta vegetariana em 1863.
Em 1866, essa igreja abriu um instituto de saúde em Battle Creek, Michigan, mas cedo descobriu que sua sobrevivência dependia de uma equipe medica treinada. Com o apoio da igreja, o jovem John Harvey Kellogg, um convertido ao Adventismo e 'a dieta vegetariana, se matriculou e completou o curso de Medicina. Durante sua vida acadêmica, ele viveu, dizia ele, sob uma dieta de pão de Graham e macas.
Em 1876, Kellogg se tornou diretor desse instituto, chamando-o de Battle Creek Sanitarium, e sob sua direção se tornou uma clinica de fama mundial e um centro de fabricação de cereais para café da manha. Kellogg era um porta-voz eloqüente da causa vegetariana, e quando a Sociedade Vegetariana da América se reorganizou em 1886, ele foi honrado com a posição de porta-voz principal. Seu livro Dieta Natural para o Homem (1923) foi um livro típico sobre vegetarianismo publicado durante o final do século dezoito e o inicio do século dezenove.
Essas publicações serviram para mudar o vegetarianismo de uma pratica de "culto" para uma pratica baseada mais em ciência. Ainda assim, elas continham muitas evidencias não investigadas e retórica de convencimento.
Nutricionistas dos anos vinte e trinta não tinham muita disposição tanto para condenar quanto para promover o vegetarianismo, sentindo que faltavam boas evidencias para ambas as posições. Vegetarianos eram mais lamentados do que valorizados, e ambas comunidade medica e o publico geral expressavam preocupação com as conseqüências da dieta. Tendências atuais. A explosão das pesquisas cientificas depois da Segunda Guerra removeram muito do estigma da dieta sem carne. O estudo recente conduzido na Califórnia tem mostrado que os homens vegetarianos adventistas vivem mais 8,9 anos do que a media da população. Quando os subgrupos da população foram comparados, os vegetarianos adventistas tiveram uma vantagem de 3.7 anos sobre seus companheiros que comiam carne.
Oitenta por cento dos americanos agora acreditam que uma dieta vegetariana e' mais saudável do que a ingestão de carne, e cerca de 50 milhões tem diminuído significativamente ou eliminado a carne vermelha de suas dietas.
E' estimado que cerca de 4 por cento (8 milhões) da população de adultos americanos são vegetarianos. De acordo com a pesquisa realizada em 1990 pela Vegetarian Times, esses indivíduos provem das mais variadas classes e tipos e tem praticado sua dieta por uma media de 6,8 anos. A principal razão dada para a adoção do estilo vegetariano foi o desejo de eliminar o sofrimento causado aos animais. Saúde foi o segundo motivo mais citado, seguido de preocupação ecológica.
Os ingleses estão mais na frente como se poderia esperar. A Sociedade Vegetariana Britânica relatou recentemente que quase um terço de todos os jovens ingleses são vegetarianos. De todos os 149 colégios e universidades na Grã-Bretanha, todos exceto dois proviam cardápios vegetarianos em seus refeitórios.
Hoje, uma estatua em bronze de Pitágoras contempla o antigo porto da vila, nomeada em sua homenagem, Pythagorean, na ilha grega de Samos. Mais de 2500 anos se passaram desde que ele sentou-se naquelas praias para se maravilhar com a Matemática e o significado da vida.
Ironicamente, e' praticamente impossível encontrar uma refeição vegetariana em qualquer das lanchonetes que cercam o porto hoje em dia.
Pitágoras ainda ficaria grato em saber o quão difundida sua doutrina vegetariana se tornou, mas talvez um pouco desapontado de que foi pelo seu teorema matemático que ele e' mais lembrado.
Glen Blix, Dr.Phd., e' professor assistente no Departamento de Promoção e Educação para a Saúde na Escola de Saúde Publica da Universidade de Loma Linda, Loma Linda, Califórnia.
Vibrant Life – 05/15/92 – v8:n3. p4(3) COPYRIGHT 1992 Review and Herald Publishing Association